“Assim nós sejamos capazes de acolher!”
As maiores lições de hospitalidade aprendia-as na Grécia, em campos de refugiados, onde as pessoas pouco tinham nas suas tendas. Mas partilhavam connosco chá e alimentos, o melhor (e algumas vezes tudo) quanto tinham.
No ano passado, na sequência do desafio lançado pelo Papa Francisco para que “cada paróquia, cada comunidade religiosa, cada mosteiro, cada santuário da Europa acolhesse uma família de refugiados”, senti a alegria de fazer parte de uma comunidade cristã que se mobilizava para acolher uma família em busca de proteção e segurança. Mas os meses passavam e a família tardava em chegar, apesar das notícias e imagens de tantos milhares de pessoas nas fronteiras. Foi assim que, após oração familiar com o meu marido e filhos (de 8 e 5 anos de idade), decidimos que eu partiria em missão para a Grécia. Fui com a Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR) e servi durante o mês de Julho, no Centro do Serviço Jesuíta aos Refugiados (JRS), em Atenas.
Neste Centro, viviam cerca de quarenta pessoas muito vulneráveis, a maioria crianças. Era nossa missão ajudar em tudo o necessário: preparar as refeições, cuidar do espaço do Centro, brincar com as crianças, dinamizar atividades educativas, conversar com cada pessoa, escutar muito, abraçar, acompanhar o seu dia-a-dia nas coisas mais pequenas e simples. As cicatrizes da guerra e da perigosa travessia do mar mediterrânio estavam presentes. Perturbadoras memórias de tantos que perderam a vida (conheci os seus nomes), assim como a incerteza em relação ao futuro, numa Europa que sonharam ser um lugar de paz, liberdade e segurança. Mas entre fadigas, dramas e silêncios, as crianças corriam pelos corredores, brincando uns com os outros e connosco, celebrando a vida. Porque a vida continua... e nem sempre é fácil. Mas é preciso levar a esperança e a alegria.
Na última semana de missão na Grécia, sofria já com a separação eminente destas pessoas que se tornaram numa família para mim, quando recebi a notícia tão aguardada de que a nossa Paróquia ia finalmente acolher em Portugal uma destas famílias, no âmbito do Projeto PAR Famílias e em articulação com a Cáritas Diocesana. Foi uma grande felicidade! Aguardava-me uma missão ainda mais desafiante: a de colaborar no acolhimento e integração de uma família síria no nosso país. Um sonho, construído com o envolvimento e generosidade de muitas pessoas da nossa comunidade, que têm ajudado na medida das suas possibilidades: preparando a casa, fazendo donativos, oferecendo móveis, alimentos e vestuário, procurando intérpretes, oferecendo-se como voluntários tutores e para ajudar na aprendizagem da língua portuguesa.
A família de Afrin (um casal, sua filha e neto bebé) chegou em Setembro último à Paróquia de Cristo Rei Algés/Miraflores e Paróquia Senhor Jesus dos Aflitos de Cruz-Quebrada/Dafundo. Estas pessoas têm acolhido quem os acolhe, com o seu sorriso e vontade de construir o futuro. São de uma coragem e força extraordinárias. Lembram-me tantas outras pessoas com quem mantenho o contacto e não consigo esquecer. Ainda esperam nas fronteiras por uma oportunidade de construir uma vida normal num lugar seguro, um lugar de hospitalidade. Então penso que é possível muitas mais comunidades cristãs se mobilizarem para acolher estas famílias vulneráveis.
No momento, em que nos chegam terríveis notícias sobre a guerra na Síria e a batalha de Alepo, o apelo do Papa Francisco está mais vivo do que nunca, neste Natal.
Texto e imagem: Ana Varela (Jurista)
HOSPITALIDADE
Quando os refugiados não chegam, há quem decida partir e ir ao seu encontro, para aí ajudar no que for preciso. Hoje, já de regresso, a proximidade com as vitimas da guerra faz-se na paróquia.
OUSADIA
No final de mais um ano, esta rubrica propõe-lhe reflectir o passado e a não desistir dos seus sonhos, conferindo à vida verticalidade e beleza, evitando o precipicio individual e coletivo.
PRIORIDADES
“Mais acolhimento, mais missão, mais trabalho em conjunto” – foi assim que o Cardeal Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, definiu as prioridades para a Diocese de Lisboa.
MERCADO SOCIAL
Não há melhor lugar de encontro que o espaço público. É aqui que organizações e empresas se conhecem e estabelecem formas de cooperação com resultados surpreendentes.
OUTRO MUNDO É POSSÍVEL
O que foi e o que quer continuar a ser a Cáritas em Portugal, guiada pela centralidade da Carta de Direitos Fundamentais.
JUNTOS PELA DIGNIDADE DE TODOS
A relação entre as organizações e empresas é cada vez mais importante no apoio às comunidades e suas necessidades. A cooperação, quando acontece, reposiciona o ser humano e a sua dignidade.
MAIS MISSÃO
A vida não pára no terreno diocesano. Responde diariamente aos desafios que a interpelam, procurando erradicar desiquilibrios e proporcionar a inclusão e o bem estar de todos, sem excepção.
O MEU PROJETO SOCIAL
Nesta rubrica oferecemos-lhe alguns apontamentos sobre a ação da CDL realizada nestes últimos meses do ano. Aqui pode encontrar os destinatários que o seu banco de horas e recursos disponiveis tanto procuram. A CDL pode já ser em 2017 o seu projeto social.
AFETO
O afeto por si só nada resolve, mas o que seria do exercício do Direito sem o afeto? Pura aridez, esterilidade.